domingo, 9 de maio de 2010

Brasileiro vira ícone dos clandestinos nos EUA


O brasileiro Felipe Matos, de 24 anos, é um dos 12 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos EUA. Ele saiu de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, aos 14 anos. Filho de mãe solteira, faxineira, embarcou em um avião para Miami e foi passar um tempo com parentes. Nunca mais voltou. Fez colegial, faculdade, ficou entre os melhores alunos. Mas não tem esperança de tornar-se cidadão americano, como outros milhões de ilegais.

A diferença é que Felipe resolveu se engajar pessoalmente na luta pela legalização dos chamados "indocumentados". Em 1.º de janeiro, ele saiu de Miami com outros três amigos, também estudantes ilegais: a equatoriana Gabriela Pacheco, o venezuelano Carlos Roa, e o colombiano Juan Rodríguez.

Os quatro atravessaram a pé os Estados da Flórida, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Virgínia. Chegaram ao Distrito de Columbia, onde fica Washington, em 27 de abril. Foram 2.400 quilômetros de caminhada em 4 meses. Dormiam em igrejas, sofás nas casas de desconhecidos e viviam de doações.

Tudo isso para entregar ao presidente Barack Obama uma carta. Felipe e outros três estudantes querem que o Congresso aprove o Dream Act, lei que regulariza a situação de imigrantes ilegais que chegaram aos EUA antes de completar 16 anos, fizeram colegial e nunca cometeram nenhum crime.

Pelo Dream Act, essas pessoas ganhariam uma residência provisória de seis anos. Se, nesse período, fizerem serviço militar ou faculdade, tornam-se cidadãos americanos.

A lei quase passou em 2007. Agora, como a reforma da imigração está empacada, Felipe e seus companheiros andarilhos trazem uma carta com 30 mil assinaturas para que Obama suspenda temporariamente as deportações de pessoas que se beneficiariam do Dream Act, como eles. Há cerca de 65 mil imigrantes ilegais nessa condição.

O brasileiro quer ser professor. Ele se formou em relações internacionais em uma faculdade pública. Entretanto, sem documento de identidade, que só imigrantes legalizados ou residentes têm, não consegue autorização para lecionar. Por isso, sustenta-se fazendo bicos: trabalha de garçom, jardineiro ou fazendo faxina.

Sonho americano. Com a caminhada, Felipe apareceu na CNN e na capa do jornal Washington Post. "Se a Imigração quiser me deportar, agora já devem saber quem eu sou", diz Felipe, que fala com um pouco de sotaque e usa palavras em inglês.

Ele não quer nem pensar em voltar para o Brasil e diz que suas raízes agora estão nos EUA. "Eu era muito pobre no Brasil. Aqui, construí minha vida", lembra. Ele não gosta de falar dos parentes nos EUA, pois teme que eles - também ilegais - sejam deportados.

Felipe ainda não conseguiu ser recebido por Obama, mas já se encontrou com o líder do Senado, Harry Reid, a líder da Câmara, Nancy Pelosi, e vários nomes importantes do Congresso americano. A Casa Branca ofereceu um encontro com Valerie Jarrett, uma das principais conselheiras do presidente. Os andarilhos, contudo, preferem esperar mais um pouco. Eles ainda têm esperanças de entregar a carta em mãos para Obama.

Fonte: O Estado de S.Paulo

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